A Terapia do Esquema (TE), além disso, tem se destacado como uma abordagem psicoterapêutica eficaz no tratamento de transtornos de personalidade, transtornos crônicos de humor e, de maneira similar, outros problemas de saúde mental que não respondem satisfatoriamente aos tratamentos tradicionais. Portanto, este guia abrangente visa aprofundar o conhecimento do profissional sobre a TE, explorando, assim, seus fundamentos, conceitos-chave, técnicas e aplicações clínicas.
Compreendendo os Esquemas Iniciais Desadaptativos
Os Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs) são, por definição, padrões emocionais e cognitivos disfuncionais que se originam na infância e, consequentemente, se perpetuam ao longo da vida. Além disso, eles se formam a partir de necessidades emocionais básicas que não foram satisfeitas durante o desenvolvimento, como:
- Conexão e Aceitação: Muitas vezes, há uma carência de segurança, estabilidade, afeto e aceitação por parte dos cuidadores. Isso, por sua vez, pode resultar em dificuldades emocionais significativas.
- Autonomia, Competência e Senso de Identidade: Além disso, há uma dificuldade em se sentir competente, confiante e capaz de funcionar de forma independente. Assim, esse sentimento pode impactar negativamente a autoimagem.
- Limites Realistas e Autocontrole: Por outro lado, observa-se uma falta de limites, autodisciplina e responsabilidade. Isso pode levar a uma desorganização nas relações e na vida cotidiana.
- Liberdade para Expressar Necessidades e Emoções: Ademais, ocorre uma repressão das emoções e necessidades, tornando difícil expressá-las de maneira saudável. Portanto, essa repressão pode gerar frustração e conflitos internos.
- Espontaneidade e Diversão: Por fim, há uma ênfase excessiva em regras, deveres e desempenho, em detrimento do prazer e da espontaneidade. Consequentemente, isso pode resultar em uma vida menos gratificante e mais estressante.
Esses EIDs influenciam a percepção do indivíduo sobre si mesmo, os outros e o mundo, levando a comportamentos e padrões de relacionamento disfuncionais.
Os 18 Esquemas Iniciais Desadaptativos
Jeffrey Young, criador da Terapia do Esquema, identificou 18 EIDs, agrupados em cinco domínios:
1. Desconexão e Rejeição:
- Abandono/Instabilidade: Existe a crença de que, inevitavelmente, as pessoas importantes em sua vida irão abandoná-lo. Portanto, isso gera uma sensação constante de insegurança nas relações.
- Desconfiança/Abuso: Há uma expectativa persistente de que os outros irão, de alguma forma, machucá-lo ou até abusar, humilhar, trair ou manipular. Assim, você pode se sentir sempre em alerta, temendo o pior das interações sociais.
- Privação Emocional: Surge uma sensação profunda de que suas necessidades emocionais básicas, essencialmente, não serão satisfeitas pelos outros. Como resultado, isso pode levar a um sentimento de solidão e desespero.
- Defectividade/Vergonha: Aqui, a crença é de que você é, de fato, inerentemente defeituoso e, por isso, indigno de amor. Por conseguinte, isso gera sentimentos de vergonha e a sensação de ser inaceitável aos olhos dos outros.
- Isolamento Social/Alienação: Muitas vezes, existe um sentimento de ser diferente dos outros, levando a uma percepção de que você não pertence a nenhum grupo. Dessa forma, isso acentua a sensação de isolamento e desconexão social.
2. Autonomia e Desempenho Prejudicados:
- Dependência/Incompetência: A crença de que você é incapaz de lidar com as responsabilidades do dia a dia sem ajuda significativa dos outros pode ser bastante limitante. Por um lado, isso pode levar a uma sensação constante de insegurança, enquanto, por outro, pode resultar em uma dependência excessiva das pessoas ao seu redor.
- Vulnerabilidade a Danos ou Doenças: O medo exagerado de que uma catástrofe — seja médica, natural, criminal, e assim por diante — aconteça a qualquer momento, pode afetar seriamente a qualidade de vida. Por consequência, essa preocupação constante pode gerar ansiedade e paralisar a capacidade de aproveitar o momento presente.
- Emaranhamento/Self Subdesenvolvido: O sentimento de estar excessivamente envolvido com uma ou mais pessoas significativas, em detrimento da sua individuação, pode impedir o crescimento pessoal. Assim, isso pode resultar em dificuldades para estabelecer limites saudáveis e levar a um esvaziamento da identidade individual.
- Fracasso: A crença de que você é incapaz de ter sucesso em áreas importantes da vida, como, por exemplo, a profissional, acadêmica e esportiva, pode ser bastante paralisante. Portanto, isso pode levar a um ciclo vicioso de evitação e a uma baixa autoestima, dificultando a busca por novas oportunidades.
3. Limites Prejudicados:
- Direitos/Grandiosidade: Essa crença manifesta-se na ideia de que você se considera superior aos outros. Como resultado, sente que não precisa seguir as regras e normas sociais que regem a convivência.
- Autocontrole/Autodisciplina Insuficientes: Além disso, há uma dificuldade em tolerar frustrações. Por conseguinte, isso leva a desafios no controle de impulsos e na capacidade de adiar recompensas, o que, por sua vez, dificulta o alcance de seus objetivos.
4. Orientação para o Outro:
- Subjugação: Refere-se à supressão das suas necessidades e emoções. Isso ocorre, por exemplo, para agradar aos outros e, assim, evitar conflitos. Consequentemente, essa prática pode levar a sentimentos de insatisfação e ressentimento.
- Autossacrifício: Este comportamento envolve um foco excessivo em atender às necessidades dos outros. Assim, muitas vezes, isso acontece em detrimento das suas próprias necessidades e desejos. Além disso, o autossacrifício pode resultar em esgotamento emocional.
- Busca de Aprovação/Reconhecimento: Trata-se de uma necessidade excessiva de obter aprovação, atenção e reconhecimento dos outros. Nesse sentido, essa busca pode se tornar tão intensa que compromete a autoestima e o bem-estar. Portanto, é importante encontrar um equilíbrio saudável entre a validação externa e a autovalorização.
5. Supervigilância e Inibição:
- Negativismo/Pessimismo: É o foco nos aspectos negativos da vida. Assim, há uma expectativa constante de que as coisas darão errado, o que, por sua vez, pode gerar sentimentos de ansiedade e frustração.
- Inibição Emocional: Refere-se à inibição da expressão espontânea de sentimentos, impulsos e desejos. Portanto, essa inibição ocorre para evitar rejeição, retaliação ou mesmo a perda de controle, levando a um acúmulo de emoções não expressas.
- Padrões Inflexíveis/Excessivos: Neste contexto, observamos a busca incessante por atingir altos padrões internalizados. Dessa forma, há um foco em regras, ordem, organização e controle, o que acaba prejudicando o prazer, a alegria e o relaxamento, essenciais para o bem-estar emocional.
- Punição: Existe uma crença de que as pessoas devem ser punidas severamente por seus erros. Além disso, há uma tendência a ser crítico, intolerante e impaciente com aqueles (incluindo você mesmo) que não conseguem atender às suas expectativas, o que pode gerar um ambiente de desgosto e tensão.
Modos Esquemáticos
Os modos de esquema, por outro lado, são estados mentais distintos que se manifestam em resposta a situações específicas. Além disso, eles representam a ativação dos EIDs e, consequentemente, influenciam os pensamentos, sentimentos e comportamentos do indivíduo. Young, por sua vez, identificou quatro categorias principais de modos de esquema:
- Modo Criança: reflete as emoções e necessidades da criança interior, como a criança vulnerável, a criança raivosa e a criança feliz.
- Modo Disfuncional de Enfrentamento: representa as estratégias desadaptativas que o indivíduo desenvolveu para lidar com os EIDs, como o modo de submissão, o modo de evitação e o modo de ataque.
- Modo Pai Disfuncional: internalização das vozes críticas e punitivas dos pais ou figuras de autoridade, manifestando-se como o pai punitivo e o pai exigente.
- Modo Adulto Saudável: representa a parte do indivíduo que é capaz de lidar com as situações de forma adaptativa, atendendo suas necessidades de forma saudável e equilibrada.
Técnicas Terapêuticas
A TE utiliza uma variedade de técnicas terapêuticas para ajudar o paciente a identificar, compreender e modificar seus EIDs e modos de esquema. Algumas das técnicas mais utilizadas são:
- Diálogo Imaginário: Neste exercício, o paciente é encorajado a dialogar com seus modos de esquema. Assim, ele pode expressar suas emoções e necessidades, facilitando um entendimento mais profundo de si mesmo.
- Reparentalização Limitada: Aqui, o terapeuta assume o papel de um “pai saudável”. Com isso, oferece ao paciente a validação, o apoio e a orientação que, por vezes, ele não recebeu durante a infância, promovendo um espaço seguro para o crescimento emocional.
- Cartas para os Pais: Neste exercício, o paciente é incentivado a escrever cartas para seus pais. Dessa maneira, ele pode expressar seus sentimentos e necessidades que foram, até então, não atendidas, ajudando no processo de cura emocional.
- Mudança de Modo: O terapeuta, então, auxilia o paciente a identificar e mudar para o Modo Adulto Saudável. Para isso, utiliza técnicas de respiração, relaxamento e mindfulness, que são fundamentais para o desenvolvimento emocional e psicológico.
- Técnicas Experienciais: Além disso, o uso de técnicas como dramatização, trabalho com imagens e cadeira vazia é essencial. Essas abordagens ajudam a acessar e processar emoções e memórias relacionadas aos EIDs, promovendo uma vivência mais rica e integrada do que foi vivenciado.
Aplicações Clínicas da Terapia do Esquema
A TE tem se mostrado eficaz no tratamento de uma variedade de transtornos mentais, incluindo:
- Transtornos de Personalidade: Especificamente, os transtornos incluem o Transtorno de Personalidade Borderline, o Transtorno de Personalidade Narcisista, o Transtorno de Personalidade Dependente e o Transtorno de Personalidade Esquiva. Além disso, cada um desses transtornos apresenta características únicas que afetam o comportamento e a interação social da pessoa.
- Transtornos de Humor: Os transtornos nessa categoria englobam a Depressão Crônica, o Transtorno Bipolar e a Distimia. É importante mencionar que essas condições podem causar alterações significativas no humor, influenciando a qualidade de vida dos indivíduos que as enfrentam.
- Transtornos de Ansiedade: Aqui, destacam-se o Transtorno de Ansiedade Generalizada, o Transtorno de Pânico, as Fobias e o Transtorno Obsessivo-Compulsivo. É relevante considerar que esses transtornos podem gerar um impacto profundo na forma como a pessoa lida com o cotidiano e como percebe o mundo ao seu redor.
- Transtornos Alimentares: Nesta categoria, encontramos a Anorexia Nervosa, a Bulimia Nervosa e o Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica. Estes transtornos, de fato, afetam não apenas a saúde física, mas também a saúde mental e emocional do indivíduo.
- Problemas de Relacionamento: Frequentemente, as pessoas enfrentam dificuldades em estabelecer e manter relacionamentos saudáveis. Além disso, podem apresentar padrões de relacionamento disfuncionais, o que pode levar a consequências emocionais e sociais significativas.
- Traumas: Finalmente, o Transtorno de Estresse Pós-Traumático e os traumas complexos são aspectos importantes a serem considerados. Esses traumas podem ter um efeito duradouro na vida de uma pessoa, influenciando suas emoções e sua capacidade de se relacionar com os outros.
O Papel do Terapeuta na Terapia do Esquema
O terapeuta do esquema desempenha um papel ativo e empático no processo terapêutico. Ele precisa ser capaz de:
- Estabelecer uma aliança terapêutica forte e segura: criando, assim, um ambiente de confiança e acolhimento. Isso permitirá que o paciente se sinta à vontade para explorar suas vulnerabilidades.
- Identificar e avaliar os EIDs e modos de esquema do paciente: utilizando, como ferramenta principal, entrevistas clínicas, questionários e observação do comportamento. Dessa forma, é possível obter uma compreensão mais profunda das dificuldades enfrentadas.
- Desenvolver um plano de tratamento individualizado: selecionando, de acordo com as necessidades do paciente, as técnicas terapêuticas mais adequadas. Essa personalização é fundamental para o sucesso do tratamento.
- Utilizar uma variedade de técnicas terapêuticas: combinando, por exemplo, intervenções cognitivas, emocionais e comportamentais. Essa diversidade de abordagens enriquece o processo terapêutico e atende diferentes aspectos do paciente.
- Ajudar o paciente a desenvolver o Modo Adulto Saudável: promovendo, assim, a autoconsciência, a autorregulação emocional e a capacidade de lidar com os desafios da vida de forma mais adaptativa. Desse modo, o paciente se torna mais resiliente.
- Utilizar técnicas específicas da terapia do esquema: como o diálogo de imagens, reparentalização limitada e confrontação empática. Essas técnicas são essenciais para trabalhar nas feridas emocionais.
- Trabalhar em colaboração com o paciente: construindo, portanto, uma relação terapêutica baseada no respeito, na compreensão e no trabalho conjunto em direção aos objetivos do tratamento. Essa parceria é crucial para a motivação.
- Monitorar o progresso do paciente: avaliando, periodicamente, a efetividade das intervenções e ajustando o plano de tratamento conforme necessário. O feedback constante ajuda na adaptação das estratégias.
- Auxiliar o paciente na generalização das habilidades aprendidas: para que ele possa, assim, aplicá-las em sua vida cotidiana e manter os ganhos terapêuticos a longo prazo. Essa aplicação prática é decisiva para a transferência do aprendizado.
Conclusão
A Terapia do Esquema (TE) se destaca como uma abordagem inovadora e eficaz no tratamento de diversos transtornos mentais, especialmente aqueles que não respondem bem às terapias tradicionais. Ao focar nos Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs) e nos modos de esquema, a TE oferece uma compreensão profunda das raízes emocionais e cognitivas dos problemas do paciente. As técnicas terapêuticas, como o diálogo imaginário e a reparentalização limitada, permitem que os pacientes revisitem e reformulem suas experiências passadas, promovendo a cura e o crescimento pessoal.
O papel do terapeuta é crucial nesse processo, exigindo empatia, habilidade e um compromisso contínuo com o desenvolvimento do Modo Adulto Saudável do paciente. A eficácia da TE em uma ampla gama de transtornos, desde transtornos de personalidade até problemas de relacionamento e traumas, destaca sua versatilidade e importância no campo da psicoterapia.
Em suma, a Terapia do Esquema não apenas oferece uma nova perspectiva sobre o tratamento de transtornos mentais, mas também proporciona ferramentas práticas e poderosas para a transformação pessoal e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
Referências Bibliográficas
- cambridge.org – Schema Therapy for the Schema Therapist (Chapter 18)
- positivepsychology.com – Schema Therapy in Practice: 12 Worksheets & Techniques
- schematherapysociety.org – Schema Therapy Society e.V. (ISST)
- psychologytoday.com – Schema Therapy
- cognitivebehaviortherapycenter.com – Schema Therapy Techniques | Silicon Valley
- psychologytoday.com – Understanding the “Healthy Adult” in Schema Therapy
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