Transtornos de Personalidade
Os Transtornos de Personalidade são padrões generalizados e persistentes de pensar, perceber, reagir e se relacionar que causam sofrimento significativo ou comprometimento funcional. Porém, esses transtornos resultam de uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Com o envelhecimento, muitos transtornos de personalidade tendem a se tornar menos graves, embora alguns traços possam persistir. O diagnóstico é feito com base em critérios clínicos e o tratamento inclui terapias psicossociais sistêmicas e, ocasionalmente, medicamentos.
Compreendendo os Traços de Personalidade
Os traços de personalidade são padrões de pensamento, percepção, reação e relacionamento que permanecem relativamente estáveis ao longo do tempo. Entretanto, os transtornos de personalidade ocorrem quando esses traços se tornam tão pronunciados, rígidos e mal adaptativos que prejudicam o funcionamento profissional e interpessoal. Essas mal adaptações sociais podem causar sofrimento significativo tanto para os indivíduos com transtornos de personalidade, assim como para aqueles ao seu redor.
Porém, ao contrário de muitos pacientes que buscam aconselhamento, as pessoas com transtornos de personalidade geralmente procuram tratamento devido ao sofrimento causado pelas consequências de seus comportamentos socialmente mal adaptativos, e não pelo desconforto com seus próprios pensamentos e sentimentos. Portanto, os médicos devem inicialmente ajudar os pacientes a perceber que seus traços de personalidade são a raiz dos problemas.
Manifestação dos Transtornos de Personalidade
Os transtornos de personalidade geralmente começam a se manifestar no final da adolescência ou início da idade adulta. No entanto, alguns sinais podem ser evidentes já na infância. Os traços e sintomas variam consideravelmente em termos de duração, porém, com muitos desaparecendo com o tempo. No entanto, diferente de muitos pacientes que buscam aconselhamento, as pessoas com transtornos de personalidade geralmente procuram tratamento devido ao sofrimento causado pelas consequências de seus comportamentos mal adaptativos, e não pelo desconforto com seus próprios pensamentos e sentimentos.

Classificação dos Transtornos de Personalidade
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª Edição, Texto Revisado (DSM-5-TR) lista 10 tipos de transtornos de personalidade. Entretanto, a maioria dos pacientes preenche os critérios de mais de um tipo. Transtornos como o antissocial e o borderline tendem a diminuir ou desaparecer com a idade, no entanto, outros, como o transtorno obsessivo-compulsivo e o esquizotípico, têm menor probabilidade de remissão.
Cerca de 9% da população geral e até metade dos pacientes psiquiátricos em unidades hospitalares e ambulatoriais têm transtorno de personalidade. Não há distinções claras em termos de sexo, classe socioeconômica e raça, contudo, homens superam mulheres em uma proporção de 3:1 no transtorno de personalidade antissocial.
No transtorno de personalidade borderline, as mulheres superam os homens na mesma proporção, mas apenas em ambientes clínicos, não na população em geral.
Hereditariedade e Impacto Socioeconômico
Para a maioria dos transtornos de personalidade, os níveis de hereditariedade são de cerca de 50%, portanto, comparáveis ou superiores aos de muitos outros transtornos psiquiátricos maiores. Esse grau de hereditariedade desafia a suposição comum de que os transtornos de personalidade são falhas de caráter moldadas principalmente por um ambiente adverso.
Além disso, os custos diretos de cuidados de saúde e os custos indiretos da perda de produtividade associados aos transtornos de personalidade, especialmente o borderline e o obsessivo-compulsivo, são significativamente maiores do que os custos associados ao transtorno depressivo maior ou ao transtorno de ansiedade generalizada.

Tipos de Transtornos de Personalidade
O DSM-5-TR divide os transtornos de personalidade em três grupos (A, B e C), baseados em características semelhantes:
Grupo A:
Comportamento Estranho ou Excêntrico
- Paranoide: Em primeiro lugar, indivíduos com transtorno de personalidade paranoide demonstram uma desconfiança profunda e persistente dos outros. Frequentemente, eles interpretam as ações alheias como ameaçadoras ou maliciosas, mesmo sem justificativa. Dessa forma, essa desconfiança pode levar ao isolamento social e a dificuldades em manter relacionamentos pessoais e profissionais.
- Esquizoide: Por outro lado, pessoas com transtorno de personalidade esquizoide apresentam um desinteresse marcante em interações sociais e relacionamentos. Elas preferem atividades solitárias e têm pouca ou nenhuma vontade de formar laços próximos com outras pessoas. Além disso, essa falta de interesse em conexões sociais é acompanhada por uma gama restrita de expressões emocionais.
- Esquizotípico: Finalmente, o transtorno de personalidade esquizotípico é caracterizado por pensamentos, percepções e comportamentos excêntricos. Indivíduos com este transtorno podem ter crenças incomuns, experiências perceptivas estranhas e podem exibir um comportamento ou aparência peculiar. Além do mais, eles frequentemente têm dificuldades em estabelecer relacionamentos próximos devido à sua ansiedade social intensa e à desconfiança dos outros.
Grupo B:
Comportamento Dramático, Emocional ou Errático
- Antissocial: Pessoas com transtorno de personalidade antissocial demonstram irresponsabilidade social, desrespeitam os outros, agem com falsidade e manipulam os demais. Consequentemente, suas atitudes resultam em problemas legais e dificultam a manutenção de relacionamentos pessoais e profissionais.
- Borderline: Indivíduos com transtorno de personalidade borderline sentem um vazio interior, mantêm relacionamentos instáveis e sofrem de desregulação emocional. Frequentemente, essa desregulação causa mudanças rápidas de humor e comportamentos impulsivos, o que dificulta a vida diária e a estabilidade nos relacionamentos.
- Histriônico: Pessoas com transtorno de personalidade histriônica buscam atenção constantemente e exibem emocionalidade excessiva. Elas agem de forma dramática e teatral, utilizam sua aparência para atrair atenção e, por isso, enfrentam dificuldades para construir relacionamentos genuínos e estáveis.
- Narcisístico: Indivíduos com transtorno de personalidade narcisista exibem grandiosidade, necessitam de admiração constante e carecem de empatia. Eles ignoram os sentimentos e necessidades alheias, o que leva a dificuldades em manter relacionamentos saudáveis e provoca o isolamento social.
Grupo C:
Comportamento Ansioso ou Apreensivo
- Esquivo: Indivíduos com transtorno de personalidade esquiva evitam contato interpessoal, pois sentem uma sensibilidade extrema à rejeição. Frequentemente, eles se isolam para evitar críticas ou desaprovação, o que, consequentemente, os impede de formar relacionamentos próximos. Embora desejem a companhia dos outros, o medo da rejeição é tão dominante que preferem a solidão à possibilidade de sofrer humilhação ou desapontamento.
- Dependente: Pessoas com transtorno de personalidade dependente demonstram submissão e uma necessidade intensa de serem cuidadas. Além disso, elas temem a separação e a possibilidade de precisar tomar decisões por conta própria. Devido a essa dependência, frequentemente, elas aceitam situações desfavoráveis ou até abusivas para garantir a continuidade do cuidado e apoio. Em muitas situações, a insegurança quanto às próprias capacidades contribui para essa busca incessante por orientação e suporte.
- Obsessivo-compulsivo: Indivíduos com transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva manifestam perfeccionismo, rigidez e obstinação. Eles frequentemente se concentram em detalhes, regras e ordem, a ponto de perder a flexibilidade e a eficiência. Além disso, o medo de cometer erros leva a uma procrastinação crônica, visto que buscam uma perfeição inatingível. Consequentemente, essas características dificultam a adaptação a novas situações e a colaboração com outras pessoas.
Conclusão
Portanto, a compreensão dos transtornos de personalidade é essencial para uma abordagem terapêutica eficaz. Além disso, a combinação de terapias psicossociais e, em alguns casos, medicamentos pode trazer alívio significativo. A hereditariedade e os fatores ambientais desempenham papéis cruciais no desenvolvimento desses transtornos, além disso, os impactos socioeconômicos são notáveis. Portanto, a conscientização e o tratamento adequado são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados.
Referências
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4. Sansone RA, Sansone LA. Gender patterns in borderline personality disorder. Innov Clin Neurosci. 2011;8(5):16-20. PMID: 21686143.
5. msdmanuals.com – Visão geral dos transtornos de personalidade.
Por Mark Zimmerman, MD, South County PsychiatryRevisado/Corrigido: set. 2023
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